7 de maio de 2012

ATIRE A PRIMEIRA FLOR


Quando tudo parecer caminhar errado, seja você a tentar o primeiro passo certo.
Se tudo parecer escuro, se nada puder ser visto, acenda você a primeira luz, traga para a treva, você primeiro, a pequena lâmpada.
Quando todos estiverem chorando,  tente você o primeiro sorriso, talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que 
compreenda, de braços que confortem.
Se a vida inteira for um imenso não, não pare você na busca do primeiro 
sim, ao qual tudo de positivo deverá seguir-se.
Quando ninguém souber coisa alguma, e você  souber um pouquinho, seja o primeiro a ensinar,  começando por aprender você mesmo, corrigindo-se a si mesmo.
Quando alguém estiver angustiado à procura, consulte  bem o que se passa, talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja.
Daí, portanto, o seu deve ser o primeiro  a aparecer,  o primeiro a mostrar-se, o primeiro que pode ser o único e,  mais sério ainda, talvez o último.
Quando a terra estiver seca,  que sua mão seja a primeira a regá-la, quando a flor se sufocar na urze e no espinho, 
que sua mão seja  a primeira a separar o joio, a arrancar a praga, 
a afagar a pétala, a acariciar a flor.
Se a porta estiver fechada, de você venha a primeira chave.
Se o vento sopra frio, que o calor de sua lareira seja a  primeira proteção e primeiro abrigo.
Se o pão for apenas massa e  não estiver cozido, seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra. De acusadores o mundo está cheio, nem, por outro lado, aplauda o erro, dentro em pouco, a ovação será ensurdecedora.
Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu, sua atenção primeiro para  aquele que foi esquecido. Seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém.
Quando tudo for espinho, atire a primeira flor, seja o primeiro a mostrar que há  caminho de volta,  compreendendo que o perdão regenera, que a  compreensão edifica,  que o auxílio possibilita,  que o entendimento reconstrói.
 Atire você, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor.
Glácia Daibert

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